O conteúdo da imagem
O cassetete de Hitchcock
Hitchcock colocava os problemas do cinema de um modo muito concreto.
Ele se perguntava, por exemplo, e ele achava isso fundamental, se,
quando uma pessoa caminha por uma rua na qual depois da esquina
alguém a espera com um cassetete, é preciso mostrar
ou não o homem com o cassetete. Durante toda a vida ele se
colocou esse problema, como Chaplin nunca parou de se perguntar
quanto tempo deveria durar a gag do apito.
A maneira como estou falando dessas coisas pode parecer simplificar
essa questão, ela não continua menos central. É
necessário mostrar os suspenses: filmar o homem que caminha
pela rua, pára, compra um jornal, enquanto o outro, constrangido
pelos transeuntes, esconde seu cassetete ou jogar com o prodigioso
efeito de surpresa de um golpe de cassetete que não era esperado.
É entre esses dois pólos, com todas as nuances que
eles implicam, que trabalha o cinema de Hitchcock. Ele e Lubitsch
se comportam como romancistas do século XIX, eles são
os mestres absolutos de seus personagens.
Em To
be or not to be, Lubitsch passa de um personagem
a outro, de um cenário a outro em função do
que espera da reação do público: isso retoma
e prolonga a questão colocada por Hitchcock: em que momento
o público deve estar antecipado em relação
ao personagem, em que momento ele deve estar atrasado.
Em um filme policial, o detetive possui uma informação
que precede a do espectador. Ele sabe de coisas, mas nos oculta
até a revelação final. Ele faz um certo número
de operações misteriosas, de colocações
que nos mostram que ele tem uma idéia. Por outro lado, no
exemplo de Hitchcock, se vemos o homem com o cassetete estamos adiantados
em relação ao detetive e à narrativa.
|