O ritmo e o tempo
São necessários tempos mortos?
Quando me colocam essa questão, penso sempre na cena de
acampamento em um western... esse tempo de suspensão, da
qual algumas vezes sentimos a obscura necessidade que se assemelha
àquela da noite. Essa cena não existe apenas neste
tipo de cinema. Transposta, a encontramos em todos os filmes. Ela
está presente em Claude Saudet quando ele volta com Piccoli
e Schneider. Trata-se do momento em que a ação pára
e sentimos a necessidade de comentá-la, determinar as coordenadas.
Os personagens dormem se possível uns nos braços dos
outros e, que um índio malvado ou o marido ciumento esteja
escondido atrás de uma moita ou de um outdoor, o que importa
é que seja um momento de respiração e não
de tensão.
Essa cena de acampamento é um tempo morto? Não creio,
pelo menos não no sentido negativo. Ela faz parte da estrutura
da narrativa e da necessidade que os espectadores têm de fazer
uma pausa. Um tempo morto também não é uma
moldura vazia ou uma cena que dura excepcionalmente muito tempo.
Neste caso podemos de preferência falar como dizemos no teatro
‘colaboração com o público’. O
encenador deve se perguntar às vezes ‘o que é
que permite à imaginação de um espectador brincar
no mesmo tempo que a minha?’ Losey em Accident
faz com que os personagens saiam de cena e nos deixa por um momento
em um cenário vazio, seja um interior ou um caminho na zona
rural rodeado de árvores. Se formos espectadores atentos
e interessados, esta imagem não será vivenciada como
nada: ela faz vibrar em nós tudo o que a cena anterior significava,
continuamos a contar para nós mesmos a história dos
personagens que acabam de sair. Mas esse qualquer coisa que continua
em nós, somos nós, o público, que o trazemos,
não é Losey. Losey nos ofereceu a ocasião de
sonhar naquele momento. A ocasião de reunir nossos sentimentos,
a ocasião de imaginar o que continuam a fazer e a dizer os
personagens que não estamos mais vendo. Isso é muito,
muito bom.
Mas será um tempo morto, esse momento em que bruscamente
a ação pára e quando o que passou em um olhar
ou um gesto é deixado para a interpretação
e emoção de cada espectador? Não acho.
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